12) A discussão "dentro do templo x fora do templo"
A questão “Dentro x Fora do Templo” aparece no livro e nos artigos de Dorneles disponibilizados na net. O argumento é: "os hebreus até usavam tambores em momentos de adoração, mas fora do templo, por isso não devemos usá-los dentro das igrejas. Tambores não entraram no templo e não devem entrar na igreja!"
Creio que esse argumento merece ser analisado mais criticamente. Não adoramos no Templo e, incrivelmente, nem temos o Templo como nosso modelo de práticas de culto. Qualquer culto cristão, seja ele feito num prédio ou debaixo de uma árvore, é “fora do templo”. Casas cristãs de culto não são “templos judaicos”.
Nossas casas de culto, que chamamos de “igreja”, não são “o Templo de hoje”. E nossa liturgia tem pouco a ver com a liturgia do Templo (com exceção dos princípios).
Muitas coisas deixaram de entrar no serviço do Templo [crianças, mulheres, gentios] mas nem por isso sua ausência deve servir de "padrão" para hoje. Por que então se singulariza a suposta ausência dos tambores e se omite a confirmada ausência de outros elementos?
Qual o princípio por trás da ausência das crianças no serviço do Primeiro Templo, por exemplo? Aplicando-se o método de interpretação de Dorneles, deveríamos deixar as crianças fora da igreja, pois não entravam no templo.
Isso mostra que o raciocínio "se tambores não entraram no templo judaico, não devem entrar na igreja" é discutível, pois a estreita comparação "templo-igreja" é discutível. O que mais não entrava no templo judaico? Eu não poderia entrar, por ser mulher. E provavelmente você, leitor, também não, por ser gentio.
Uma vez, Paulo foi condenado pelos judeus sob a falsa acusação de ter levado um efésio chamado Trófimo para dentro do templo, além do espaço permitido aos gentios (At 21:28,29).
28 "- clamando: Varões israelitas, acudi; este é o homem que por toda parte ensina a todos contra o povo, contra a lei, e contra este lugar; e ainda, além disso, introduziu gregos no templo, e tem profanado este santo lugar.
29 - Porque tinham visto com ele na cidade a Trófimo de Éfeso, e pensavam que Paulo o introduzira no templo."
Se Dorneles estivesse certo, o discurso dos judeus seria aplicável até hoje, e cenas como essa deveriam se repetir a cada sábado nos “templos”.
Outro problema é que a adoração bíblica não se restringia ao que acontecia no Templo. Apesar de ser o centro de adoração por excelência, o templo não representava toda a experiência de adoração do povo de Israel. O que se fazia no Templo tinha sua função, mas fora do Templo o povo adorava a Deus em cultos genuínos, com vários instrumentos e sob a aprovação divina.
Ellen White classifica como “culto” e “louvor” várias cenas de adoração fora do templo. Ela chama de “culto”, por exemplo, a música feita pelos profetas (ao ar livre) em 1 Sm 10:5 (Patriarcas e Profetas, 610).
E a ironia é: o transporte da arca, o evento que marcou a suposta "reforma musical", aconteceu ao ar livre! Assim, a discussão "dentro x fora do templo" perde muito o seu sentido.
Conclusão
O livro "Cristãos em busca do êxtase" é um excelente levantamento histórico do carismatismo e do pentecostalismo. Também faz uma ótima análise do papel da música nesse processo. No entanto, ao usar a Bíblia para analisar a música sacra, o autor apenas fez eco a argumentos usados contra a música contemporânea já fartamente refutados.
É hora de levarmos a discussão sobre música e adoração a um outro nível, mais alto, mais comprometido com a Bíblia. Grande parte das publicações sobre música começam afirmando que isso não é uma “questão de gosto”, que devemos saber a “vontade de Deus”. No entanto, após essa introdução bem-intencionada, os autores passam a expor suas opiniões pessoais costuradas com versos citados pela metade, descontextualizados, mal compreendidos e mal aplicados.
É incrível como a discussão sobre música parece ocorrer numa dimensão paralela, num universo onde a exegese é tosca, ilógica e a Bíblia é pisoteada. Ao adentrar nessa discussão, precisamos manter o mesmo nível, seguir as mesmas regras de interpretação bíblica que usamos em outros assuntos. Infelizmente, os artigos de Dorneles (um deles é parte de um capítulo de seu livro) não contribuíram para isso.
A questão “Dentro x Fora do Templo” aparece no livro e nos artigos de Dorneles disponibilizados na net. O argumento é: "os hebreus até usavam tambores em momentos de adoração, mas fora do templo, por isso não devemos usá-los dentro das igrejas. Tambores não entraram no templo e não devem entrar na igreja!"
Creio que esse argumento merece ser analisado mais criticamente. Não adoramos no Templo e, incrivelmente, nem temos o Templo como nosso modelo de práticas de culto. Qualquer culto cristão, seja ele feito num prédio ou debaixo de uma árvore, é “fora do templo”. Casas cristãs de culto não são “templos judaicos”.
Nossas casas de culto, que chamamos de “igreja”, não são “o Templo de hoje”. E nossa liturgia tem pouco a ver com a liturgia do Templo (com exceção dos princípios).
Muitas coisas deixaram de entrar no serviço do Templo [crianças, mulheres, gentios] mas nem por isso sua ausência deve servir de "padrão" para hoje. Por que então se singulariza a suposta ausência dos tambores e se omite a confirmada ausência de outros elementos?
Qual o princípio por trás da ausência das crianças no serviço do Primeiro Templo, por exemplo? Aplicando-se o método de interpretação de Dorneles, deveríamos deixar as crianças fora da igreja, pois não entravam no templo.
Isso mostra que o raciocínio "se tambores não entraram no templo judaico, não devem entrar na igreja" é discutível, pois a estreita comparação "templo-igreja" é discutível. O que mais não entrava no templo judaico? Eu não poderia entrar, por ser mulher. E provavelmente você, leitor, também não, por ser gentio.
Uma vez, Paulo foi condenado pelos judeus sob a falsa acusação de ter levado um efésio chamado Trófimo para dentro do templo, além do espaço permitido aos gentios (At 21:28,29).
28 "- clamando: Varões israelitas, acudi; este é o homem que por toda parte ensina a todos contra o povo, contra a lei, e contra este lugar; e ainda, além disso, introduziu gregos no templo, e tem profanado este santo lugar.
29 - Porque tinham visto com ele na cidade a Trófimo de Éfeso, e pensavam que Paulo o introduzira no templo."
Se Dorneles estivesse certo, o discurso dos judeus seria aplicável até hoje, e cenas como essa deveriam se repetir a cada sábado nos “templos”.
Outro problema é que a adoração bíblica não se restringia ao que acontecia no Templo. Apesar de ser o centro de adoração por excelência, o templo não representava toda a experiência de adoração do povo de Israel. O que se fazia no Templo tinha sua função, mas fora do Templo o povo adorava a Deus em cultos genuínos, com vários instrumentos e sob a aprovação divina.
Ellen White classifica como “culto” e “louvor” várias cenas de adoração fora do templo. Ela chama de “culto”, por exemplo, a música feita pelos profetas (ao ar livre) em 1 Sm 10:5 (Patriarcas e Profetas, 610).
E a ironia é: o transporte da arca, o evento que marcou a suposta "reforma musical", aconteceu ao ar livre! Assim, a discussão "dentro x fora do templo" perde muito o seu sentido.
Conclusão
O livro "Cristãos em busca do êxtase" é um excelente levantamento histórico do carismatismo e do pentecostalismo. Também faz uma ótima análise do papel da música nesse processo. No entanto, ao usar a Bíblia para analisar a música sacra, o autor apenas fez eco a argumentos usados contra a música contemporânea já fartamente refutados.
É hora de levarmos a discussão sobre música e adoração a um outro nível, mais alto, mais comprometido com a Bíblia. Grande parte das publicações sobre música começam afirmando que isso não é uma “questão de gosto”, que devemos saber a “vontade de Deus”. No entanto, após essa introdução bem-intencionada, os autores passam a expor suas opiniões pessoais costuradas com versos citados pela metade, descontextualizados, mal compreendidos e mal aplicados.
É incrível como a discussão sobre música parece ocorrer numa dimensão paralela, num universo onde a exegese é tosca, ilógica e a Bíblia é pisoteada. Ao adentrar nessa discussão, precisamos manter o mesmo nível, seguir as mesmas regras de interpretação bíblica que usamos em outros assuntos. Infelizmente, os artigos de Dorneles (um deles é parte de um capítulo de seu livro) não contribuíram para isso.