quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PolêmiCAJÓN


“Haverá gritos com tambores, música e dança…”.

Esse é o texto onipresente nas discussões sobre música. Ele é aplicado indistintamente, sem nenhuma reflexão, sobre qualquer música ou instrumento que desagrade o portador do texto dos "gritos e tambores". Ele é usado inclusive contra quem não usa tambores, como os grupos a capela (!). É curioso o que o fanatismo cego pode produzir.
Recentemente ouvi falar do caso de alguns líderes de uma igreja adventista local que decidiram proibir o uso do cajón nos cultos.
E surgiu uma questão interessante: estritamente falando, o cajón não é um tambor. Tambores são "membranofones", possuem uma membrana esticada que é percutida. O cajón nada mais é que uma caixa de madeira, e poderia ser classificado entre os "idiofones" (como um prato ou um xilofone).
É interessante observar a confusão que isso causa naqueles que aplicam o texto dos "gritos com tambores" à música da igreja sem nenhuma reflexão. Para se livrar da confusão, tais pessoas 'esticam' o texto e o aplicam à percussão em geral. Mas isso gera um outra confusão: havia percussão na "lista de instrumentos do Templo" (que é outro argumento-padrão contra a música contemporânea.)
Assim, veja o dilema: se o texto se refere especificamente aos "tambores", os idiofones estão livres. Mas se o texto se aplica aos instrumentos de percussão em geral, então a Bíblia está errada ao recomendar esses instrumentos e o argumento da "lista de instrumentos do Templo" não deve ser usado (pois incluem os idiofones percutidos).
E poderíamos ampliar a confusão citando a bateria eletrônica, a percussão feita em sintetizadores, em teclados e softwares, o beatbox, a percussão programada em computadores, etc.

Que argumentos usaremos agora?
Qual seria o escape de quem usa o argumento "haverá gritos com tambores" sem pensar?
Uma opção talvez fosse dizer: "não importa se é real ou virtual, ao vivo ou gravado. Se faz 'som de percussão' tá fora!"
Essa seria uma fuga desesperada, mas igualmente inútil: é possível fazer 'som de percussão' numa infinidade de instrumentos.
Esse violão dispensa percussão:
Esse faz beatbox com a flauta transversa:
Esse faz percussão no piano:
Ninguém ousaria sugerir uma proibição ao violão, à flauta e ao piano, certo? É claro como o sol do meio-dia que os instrumentos são servos dos instrumentistas e fazem apenas o que o músico quer (e tiver habilidade de fazer).
E então, por que eu não deveria usar um cajón na minha igreja?
Se eu quisesse argumentar contra o cajón (o que não é o caso), eu não distorceria o texto dos "gritos com tambores". Eu talvez usasse argumentos como:
- "Desculpe-me meu jovem, mas você ainda não sabe tocar isso direito!"
- "Isso não combina com os hinos do hinário, só com música moderna. 'Tá feio!"
- "Você toca fora do ritmo e atrapalha os demais. Vá estudar e praticar." ( Mas isso valeria para qualquer instrumento)
- "A maioria dos membros dessa igreja é contra" (obviamente, essa pesquisa deve ter sido feita antes, e ser real, não um 'achômetro').
Repare que são argumentos discutíveis (alguns sofríveis e subjetivos), mas que pelo menos não tentam manipular as palavras da Mensageira do Senhor.

PS: Antes de entrar na discussão, experimente fazer esse teste sobre instrumentos.

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