terça-feira, 9 de março de 2010

Auschwitz e a responsabilidade dos cristãos - 1


Uma acusação frequentemente lançada sobre o cristianismo é a atuação dos cristãos durante a campanha nazista e nos campos de concentração. Eu vou publicar aqui algumas reflexões do Dr. John Graz, diretor do Departamento de Assuntos Políticos e Liberdade Religiosa da igreja Adventista mundial. Ele também atua como intermediário das Nações Unidas. O objetivo não é defender o cristianismo dessas acusações, mas levar os cristãos a uma sensível reflexão sobre suas responsabilidades sociais. Boa leitura.

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Como alguém que nasceu algumas semana depois do fim da 2ª Guerra Mundial, não acho fácil lidar com o tema de ser cristão depois de Auschwitz.

Cristão” e “Auschwitz” são totalmente opostos. Para o crente, ser cristão significa ser bom, honesto e justo. Significa amar nossos inimigos e próximos como a nós mesmos. Um cristão vive para o reino de Deus, Auschwitz foi o reino do mal. Como então podemos assumir o risco de associar essas duas palavras? Ser cristão antes de Auschwitz é diferente de ser cristão depois de Auschwitz?

Como discípulo de Jesus, minha primeira reação seria recusar responder esta questão e qualificá-la como inapropriada. Auschwitz foi o inferno na terra construído para filhos de demônios. Se tivesse vindo ao mundo no século 20, Jesus poderia muito bem ter sido um judeu em Auschwitz. Ele teria sofrido humilhação e tortura e seria mandado para a câmara de gás.

Estou inclinado a pensar, como muitos outros pensam, que o mundo está dividido entre o bem e o mal, o certo e o errado, e, dessa forma, pode-se encontrar cristãos verdadeiros e falsos. No cristianismo tem-se os fiéis e os infiéis, como em todas as outras religiões. Conforme Victor Frankl declarou:
“Podemos aprender que há duas raças de homens nesse mundo, mas somente essas duas. A ‘raça’ do homem decente, e a ‘raça’ do homem indecente.”[1]
Desse ponto de vista não há “antes de Auschwitz” ou “depois de Auschwitz” para o cristão.
Contudo, eu ainda me pergunto se não haveria mais do que isso para ser dito. Talvez algumas questões complementares ajudariam a cristalizar o assunto de como ser cristão depois de Auschwitz:

Os cristãos tinham responsabilidade?
O que eles aprenderam que poderia ajudá-los a evitar outro Auschwitz?

CONTINUA...
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[1] Harry James Cargas, Reflections of a Post-Auschwitz Christian (Detroit, MI: Wayne State University Press, 1989).

John Graz é cidadão da Suíça e da França. Teólogo, historiador e sociólogo com doutorado pela Sorbonne, em Paris. Durante a 2ª Guerra Mundial, três de seus tios e uma tia serviram como voluntários no exército que lutou com os aliados. Um foi morto. O seu avô morreu no campo de concentração em Dachau algumas semanas antes da libertação. Ele havia sido preso e enviado ao campo de concentração sem ser julgado. O crime do avô: abrir sua porta para os que estavam fugindo dos nazistas – judeus e membros da Resistência Francesa.

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